Pregabalina pode elevar risco de insuficiência cardíaca em idosos, aponta estudo

Pesquisa com mais de 240 mil pacientes sugere que o medicamento, usado no tratamento da dor crônica, apresenta maior risco cardiovascular em comparação à gabapentina

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Um estudo publicado em 1.º de agosto no periódico JAMA Network Open acendeu um alerta para a segurança do uso da pregabalina em idosos. A pesquisa, que avaliou mais de 240 mil beneficiários do Medicare nos Estados Unidos, mostrou que o anticonvulsivo, amplamente prescrito para dor crônica não oncológica, está associado a um risco significativamente maior de insuficiência cardíaca em comparação à gabapentina.

Segundo os resultados, o início do tratamento com pregabalina aumentou em 48% a probabilidade de desenvolver insuficiência cardíaca em relação à gabapentina. Entre os pacientes com histórico de doença cardiovascular, o risco foi ainda mais elevado: 85% maior.

A análise envolveu 246.237 idosos, entre 65 e 89 anos, acompanhados de 2014 a 2018. Nenhum deles apresentava diagnóstico prévio de insuficiência cardíaca. Do total, 18.622 eram novos usuários de pregabalina e 227.615 iniciaram tratamento com gabapentina. Durante o período de observação, 1.470 participantes precisaram de internação ou atendimento de emergência devido à insuficiência cardíaca.

Os dados revelaram uma prevalência de 18,2 casos por 1.000 pessoas-ano entre usuários de pregabalina, contra 12,5 casos no grupo da gabapentina. Isso equivale a cerca de seis novos episódios de insuficiência cardíaca por ano para cada 1.000 pacientes tratados com o medicamento mais potente.

De acordo com os autores, a pregabalina, por sua maior afinidade à subunidade α2δ dos canais de cálcio, pode favorecer retenção de sódio e água, mecanismos ligados à piora da função cardíaca. As conclusões reforçam recomendações da Agência Europeia de Medicamentos, que já orienta cautela na prescrição da substância para idosos com doença cardiovascular.

Em editorial publicado junto ao estudo, especialistas destacaram que os achados têm implicações clínicas imediatas. “Os médicos devem considerar os riscos cardiovasculares associados à pregabalina em relação aos seus benefícios analgésicos, especialmente em idosos com doenças cardíacas”, alertaram o Dr. Robert Zhang, do Weill Cornell Medicine (EUA), e o Dr. Edo Birati, do Centro Médico Tzafon (Israel).

Para os pesquisadores, o trabalho também levanta a hipótese de que a pregabalina possa revelar doenças cardiovasculares ainda não diagnosticadas, reforçando a necessidade de avaliações cardíacas mais criteriosas antes da prescrição.

Apesar dos resultados, não houve diferença significativa na mortalidade geral entre os grupos. O estudo não contou com financiamento comercial, e os autores declararam não ter conflitos de interesse.