Curativo produzido com pele de tilápia entra na fase final para chegar ao mercado
Inovação brasileira avança para uso clínico
A tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará deu um passo decisivo para se tornar acessível aos serviços de saúde. Após quase dez anos de estudos, a instituição formalizou a transferência da técnica que permite transformar a pele de tilápia em um curativo biológico. O acordo, firmado em 10 de novembro, autoriza duas empresas do setor ambiental e biotecnológico a assumir a produção e as etapas regulatórias necessárias para colocar o produto à disposição de hospitais e clínicas.
O material, criado a partir da pele do peixe submetida a tratamento e esterilização, mostrou capacidade de aderir com eficiência às áreas lesionadas, conservar a umidade adequada e favorecer a recuperação dos tecidos. A pesquisa começou com pacientes vítimas de queimaduras, mas o potencial do biomaterial abriu caminho para testes em outros tipos de feridas.
Ensaios clínicos indicaram que a resposta terapêutica é comparável à de curativos modernos que utilizam prata, amplamente empregados no tratamento de queimaduras. Em média, o tempo de cicatrização observado com o uso da pele de tilápia ficou pouco acima de nove dias, desempenho semelhante ao de materiais convencionais. Relatos de pacientes também apontaram níveis de dor parecidos entre as duas abordagens.
Com a licença da patente, as empresas parceiras passam a ser responsáveis por aperfeiçoar o produto final, realizar estudos complementares, comprovar segurança e buscar autorização sanitária antes da disponibilização comercial. A previsão inclui o desenvolvimento de um kit próprio e a avaliação de usos tanto para a medicina humana quanto para a veterinária.
Além de representar uma alternativa terapêutica promissora, o avanço contribui para o aproveitamento de um recurso abundante no país. A pele de tilápia, geralmente descartada durante o processamento do peixe, pode se transformar em um biomaterial de custo reduzido, especialmente relevante para regiões com menor acesso a tecnologias de ponta. A nova etapa do projeto reforça a possibilidade de uma solução nacional ampliar as opções de tratamento de feridas e estimular a inovação científica produzida no Brasil.