Medicamentos lideram importações do Brasil dos EUA e podem ser afetados por guerra tarifária

Setor teme alta nos preços de remédios para câncer e doenças raras com possível retaliação brasileira ao tarifaço de Trump

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Os medicamentos e produtos farmacêuticos são os principais itens importados pelo Brasil dos Estados Unidos em 2025. Embora, a princípio, não estejam incluídos no tarifaço anunciado por Donald Trump contra produtos brasileiros, especialistas alertam que uma eventual retaliação do Brasil pode encarecer itens essenciais, como medicamentos de alto custo usados no tratamento de câncer e doenças raras.

No ano passado, o Brasil importou quase US$ 10 bilhões em produtos da área médica, incluindo materiais cirúrgicos, reagentes para diagnóstico, equipamentos e instrumentos hospitalares — grande parte proveniente dos Estados Unidos. A possibilidade de uma guerra comercial preocupa o setor, que já projeta impactos no preço final desses insumos. “Se nós adotarmos a reciprocidade, esses produtos chegarão mais caros nas prateleiras, na ordem de 30%, e o Brasil vai ter que procurar alternativas”, afirma Paulo Fraccaro, CEO da Associação Brasileira da Indústria de Dispositivos Médicos. Ele cita China, Índia e Turquia como possíveis fornecedores.

A União Europeia é, atualmente, o principal fornecedor de medicamentos de alto custo para o Brasil, com cerca de 60% das importações, seguida pela Alemanha e pelos Estados Unidos, que respondem por 15% cada. Só no primeiro semestre deste ano, o Brasil importou US$ 4,3 bilhões em medicamentos e produtos farmacêuticos, um aumento de 10% em relação ao mesmo período de 2024. Enquanto a produção nacional cobre a maior parte dos medicamentos mais comuns e genéricos, cerca de 95% dos insumos farmacêuticos ativos usados nessa fabricação ainda vêm da China.

Para Norberto Prestes, presidente-executivo da Associação Brasileira de Insumos Farmacêuticos (Abiquifi), o cenário reforça a urgência de investir em ciência e tecnologia nacional. “Temos a capacidade, temos pesquisadores brilhantes, que acabam indo para o exterior. Nós deveríamos reter esses talentos aqui e desenvolver nosso sistema para aumentar a nossa soberania nesse quesito”, defende.