Conselho de Farmácia do RN alerta para uso indiscriminado de antimicrobianos
Em 2023 foram comercializados no Rio Grande do Norte cerca de 2,7 milhões de antimicrobianos
Em 2023 foram comercializados no Rio Grande do Norte cerca de 2,7 milhões de antimicrobianos, medicamentos utilizados na prevenção e tratamento de infecções causadas por vírus, bactérias, fungos e parasitas. A informação é de um levantamento feito pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), em parceria com a consultoria internacional, IQVIA.
Para o presidente do Conselho Regional de Farmácia do Rio Grande do Norte (CRF-RN), Joselito Rangel, o uso indiscriminado de antimicrobianos deve ser discutido com o objetivo de conscientizar todos os envolvidos. “O aumento da resistência dos microrganismos aos antimicrobianos é um tema que preocupa a comunidade científica e merece ser debatido por diversos setores da população, pois milhões de pessoas podem morrer devido ao uso indiscriminado”, alerta o farmacêutico.
No Brasil, cerca de 90% das pessoas se automedicam, de acordo com a pesquisa ICTQ/DataFolha, realizada em 2024. Segundo o estudo do Conselho Federal de Farmácia, essa situação pode ter se agravado em função da pandemia do Covid-19. Com o intuito de alertar a população, o CFF elegeu este como tema da sua campanha anual pelo Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, 5 de maio.
O levantamento mostra que, na pandemia, o varejo farmacêutico experimentou um aumento sustentado nas vendas de antimicrobianos. O ápice de 228,3 milhões de unidades vendidas foi atingido em 2022 (38,53% de aumento em relação ao ano anterior). Este crescimento significativo reflete uma tendência ascendente, partindo de 171,1 milhões de unidades em 2019 (dados de março a dezembro), para 180,7 milhões em 2020 e 187,3 milhões em 2021.
A conjuntura observada representa uma grave ameaça à prevenção e ao tratamento de várias infecções causadas por vírus, bactérias, fungos e parasitas, o que acendeu um alerta para a saúde pública, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), trazendo riscos à vida de humanos, animais e meio ambiente.
O relatório GLASS (em inglês, Global Antimicrobial Resistance and Use Surveillance Systems – GLASS) da OMS, detectou altos níveis de resistência a tratamento em bactérias que causam infecções na corrente sanguínea em pacientes internados de 87 países, em 2020. Em mais de 60% dos casos de gonorreia, infecção sexualmente transmissível, o agente causador mostrou resistência ao antibacteriano oral mais utilizado. O mesmo relatório mostrou que mais de 20% das infecções do trato urinário eram resistentes tanto aos medicamentos de primeira linha, quanto aos tratamentos de segunda linha.
Esse alerta fica ainda mais preocupante se consideradas as estimativas epidemiológicas que preveem tendência de aumento no número de vítimas por infecções bacterianas resistentes: estima-se que, em 2050, 10 milhões de pacientes sejam atingidos, superando as mortes estimadas para câncer (8,2 milhões) e diabetes (1,5 milhão).